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Foto do escritorMichelle Ramos

Stand up da obsessão


Então leitores. O que acharam do texto da semana passada? Como assim, não teve texto. Teve sim, foi sobre o silêncio.


SILÊNCIO


Já escrevi a respeito do livro que fala sobre silêncio, está aí no blog pra quem tiver curiosidade. Semana passada foi no concreto mesmo. Silêncio como protesto, como fuga, como reflexão. Curioso falar disso porque acabou que a semana foi permeada pelo assunto.

Tem uma frase do Shakespeare que já virou um clichê que fala que “A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, sem sentido algum.” E é isso mesmo.

Essa madrugada mesmo vi uma notificação no meu telefone que determinada pessoa estava me seguindo numa rede social. Ao amanhecer eu estava bloqueada pela mesmíssima pessoa. Aparentemente ela queria passar alguma mensagem misteriosa. Tenho carinho pela pessoa em questão, então vou considerar que é apenas “uma história cheia de som e fúria.”

Semana passada voltei para a terapia. Resumo como “uma história contada por um idiota, cheio de som e fúria.” Mas tenho fé que acharei um sentido.

Tem também um idiota, cheio de som e fúria na parada. Mas esse já cansou a minha beleza e realmente espero que ele vá tocar o bumbo dele em outra freguesia.

Claro que há o contraponto. Há uma conversa suspensa no ar (sendo bem honesta, acho que será a conversa impossível) que ronda a minha mente. Uma conversa por mim solicitada e nunca franqueada. Essa é só uma história sem sentido algum.


***

Andei lendo Nelson Rodrigues e Woody Allen. O meu jantar dos sonhos seria com o Nelson Rodrigues, Woody Allen e Frank Sinatra. Não sei se o humor do Frank acompanharia o nosso, mas Nelson, Woody e eu falaríamos coisas capazes de ruborizar um estivador do cais do porto.

(Eu ia escrever uma piada que fiz essa semana, mas o mundo anda muito sensível, achei melhor não. Quem quiser saber a piada é só me procurar.)

Mas não é nada disso que quero falar. Nelson Rodrigues escreveu que “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista.” Isso foi em 1967. Se fosse hoje ele diria que a pior forma de solidão é a companhia de um brasiliense. Nelson nunca imaginou as “sibérias interiores”(termo dele) que há num nativo do Planalto Central.

Uma colega, uma vez, veio falar comigo sobre minha inteligência acima da média segundo ela. Eu não acredito muito nisso. Eu acredito em todos os defeitos que me atribuem, mas rechaço de pronto toda e qualquer qualidade. Ela me aconselhou a ser menos árida, vamos dizer assim. Respondi a ela com uma frase do Woody Allen: “Não sou antissocial. Simplesmente não sou social.” Já me descrevi como um filme iraniano, como CEO da Legião da Má Vontade, somellier de mágoas. Atualmente, se tivesse que descrever meus atributos eu diria apenas “Vacinada & Vermifugada.”


***

Woody Allen disse uma vez que sentia que havia cozinhado a vida dele inteira no fogo lento da depressão. Acho que sinto algo bem parecido, mas substituiria a depressão pela melancolia, apenas no intuito de retirar o caráter medicamentoso do sentimento.

Nelson Rodrigues cunhou a expressão flor de obsessão, da qual me apoderei. As vezes a gente nem precisa consertar o defeito. Só de achar um nome pro bichinho é o suficiente para acalentar o coração. Pois bem, não há expressão melhor para quem sofre de reminiscências. Se me perguntarem o que se salva eu mim responderei: a memória (Nelson falou isso também).

Relembrar é viver. Mas quantas e quantas vezes ouvi o conselho: esquece isso e bola pra frente. Como assim esquecer?  Nesse ponto discordo do Nelson. Ele dizia que a degradação do homem é sofrer cada dia menos até esquecer. Acho que sofrer faz parte. Mas não precisamos sofrer infinitamente. Acho que dá  para parar de sofrer, mas não há como esquecer. Eu sou como um balão voando no céu e minhas lembranças, o fogo que aquece o ar e me mantem em suspensão. Tire de mim minhas lembranças e a chama se extingue.

A questão é que em 1968 Nelson explicava o mundo hoje: os nossos jovens, de ambos os sexos, esquecem antes de amar e sentem o tédio antes do desejo. A juventude de 1968 é a minha galera de agora. Eles aprenderam a esquecer. Eu não. Com a memória que tenho sou capaz de escrever uma antologia de humilhações.

Essa história me faz lembra de uma anedota de um cara que vai ao psiquiatra e diz: “doutor, meu irmão é louco. Ele acha que que é uma galinha!. E o médico diz: Bom, por que você não interna seu irmão? E o sujeito responde: Eu deveria, mas preciso de ovos”. Eis o que quero dizer: ainda que louco e irracional, continuo com minhas tentativas de me relacionar, porque no final preciso dos ovos.

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