Acredito que o tempo age em nós como o vento age nas dunas.
O vento não destrói as dunas. O vento não aniquila as dunas. Ele simplesmente muda as dunas de lugar. As vezes é uma mudança tão lenta que nossos olhos vão se acostumando com o mudar. Ao final, nem nos percebemos da mudança. Ela aconteceu ali na nossa frente e se incorporou ao nosso olhar. Nesses momentos o vento age com suavidade e carrega os grãos de areia como uma bailarina se move em um balé.
Mas as vezes o vento é vigoroso. Quando ele chega impetuoso, a tempestade de areia acontece. Não conseguimos enxergar nada, apenas fechamos os olhos e sentimos o zunido do vento, carregando enfurecidamente toneladas de areia que arranham nosso rosto e nossos braços enquanto se movem como um enxame de abelhas. Mas da mesmo forma que ele chega, o vento se vai. E quando não ouvimos mais o barulho, nem sentimos mais a arranhar da pele, abrimos os olhos. Não nos movemos do lugar. Mas não estamos mais no mesmo lugar. Tudo mudou. A duna ao longe que nos guiava sumiu. É preciso busca outras referências, talvez traçar outra rota e seguir.
O tempo é irmão do vento. E age em nosso sentir da mesma forma. Não destrói o que sentimos, não aniquila. Apenas nos reorganiza. E jamais apaga nossa essência.
Essa foi a aula de circo de hoje.
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