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Foto do escritorMichelle Ramos

Coisas que se encerram




Hoje eu tomo esse comprimido pela última vez.


Essa cápsula encerra não apenas uma cartela de remédio. Encerra uma vida onde eu não tinha espaço e não me encontrava.


Vamos voltar a setembro de 2015, quando resolvi fazer um check-up. Nessa ocasião, buscando resolver um problema na vesícula ouvi que já era considerada obesa. Foram 25 kg ganhos. Vinte e cinco quilos que entraram na minha vida para ocupar imensos vazios de uma existência que não refletia nada do que eu queria. Vazios de uma vida construída pelas minhas escolhas. Escolhas que não consideravam nada do que eu queria. Considerava apenas o que as pessoas esperavam de mim. Quando eu me abandonei no meio do caminho? Por que fiz isso? Onde achava que ia chegar? Não sei.


Nesse processo aprendi que somos nossa própria ambulância de resgate. Basta que paremos e passemos a ouvir o que diz nosso coração. E coração é bicho desaforado, ele não te poupa. Ele te fala umas verdades inconvenientes. Mas ele é generoso. Nosso coração sempre nos recebe de volta, não importa o que façamos.


No caminho encontrei pessoas incríveis, que me ouviram e me questionaram. Nesse processo houve uma especialmente importante, que me ajudou a enxergar coisas que nem imaginava haver em mim. Esse alguém me empurrou da beirada do precipício. E na queda aprendi a voar.


E de repente você entende exatamente como somos partes indissociáveis. Razão, instinto e emoção. Somos corpo e alma. Não há uma coisa mais importante que outra. Ser inteiro é entender que tudo isso vive em nós e todos devem ser cuidados. Somos racionais e somos instintivos. Somos emocionais e somos racionais. Inútil achar que a vida é um pedra-papel e tesoura onde razão vence emoção, onde intuição vence razão...


Somos alma e somos, também, corpo. E se não somos capazes de observar e cultivar o que há de mais concreto em nós, como querer cultivar o que há de mais etéreo em nós? Eu não conseguia fazer um polichinelo. Eu não conseguia manter minha coluna ereta. Eu não conseguia encostar no meu pé. Eu não sabia ouvir meu coração. Eu não sabia me perdoar. Eu não conseguia ficar em silêncio, em minha própria companhia.


Hoje fecho essa história. Não como quem fecha uma porta sem olhar para trás. Eu encerro um ciclo como quem fecha uma mala para iniciar uma nova jornada. Coloco dentro dela esses ensinamentos, ocupando o espaço que os 25kg ocupavam. E sigo aceitando que nada é por acaso. E que esse ciclo que começa hoje também se encerrará. E espero que possamos nos encontrar mais uma vez.


😘

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