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Foto do escritorMichelle Ramos

Aonde é esse aqui?


Acabei de voltar de uma viagem. Acabei também de ler um texto da Barbara Gancia sobre os protestos em Washington. Liguei uma coisa à outra.


Eu gosto de Brasília, antes que me julguem. Mas Brasília não é uma cidade no sentido clássico. Não foi uma construção orientada pela necessidade de uma pequena civilização instalada. Acho que a ideia de estabelecer uma lógica/ordem e tacar o povo dentro desconsidera o básico: as necessidades de quem vive no lugar. E isso nos leva a outras questões, como por exemplo, Brasília se parecer algumas vezes com uma cidade fantasma.


Por isso, sempre que faço viagens urbanas eu me divirto só de andar pela cidade. Aquilo tido como caos, eu sinto como energia vital da cidade. É a vontade dos locais pulsando no lugar certo. Então eu vejo essas intervenções urbanas e fico super animada, pensando como essas pessoas se sentem donas da cidade. Não enquanto propriedade, mas enquanto responsabilidade. A cidade como construção de todos.


Então me remeto ao texto da Barbara. Quem me conhece sabe que navegamos em margens diferentes do rio. Mas ela faz um questionamento que creio ser procedente: para que serve uma manifestação pacífica? Realmente me pergunto: se a força da lei não reprime, porque milhares caminhando confortavelmente com seus cães pela Paulista reprimiria? Não acredito que a violência seja o caminho único de uma civilização. Mas não acredito que tudo o que se passou no Brasil

nos últimos tempos seja resultado dessas procissões políticas.


Aonde a viagem e a Barbara se encontram. Acho que nos falta, em Brasília, essa sensação de pertencimento ao lugar. Da responsabilidade de cada um sobre essa construção coletiva. Os questionamentos colados às paredes, subvertendo a ordem das paredes caiadas, colocando nossas mentes para pensar em como retomar o controle daquilo que sempre nos pertenceu e que não sabemos identificar em qual exato momento nos foi usurpado.


Eu sei que existem, aqui e acolá, e cada dia mais, essa energia pulsando em alguns lugares da cidade. Mas eu queria mesmo era ser inundada por isso. Queria perceber que ainda que de uma maneira descoordenada estamos indo para a frente.

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